É evidente que as drogas tem sido um flagelo para um número crescente de pessoas e, por conseqüência, de famílias no Brasil. Mas... os custos de uma ação individual rejeitada pela esmagadora maioria das pessoas devem recair COMPULSORIAMENTE sobre a coletividade?
A seguinte notícia (Prefeitura do Rio inaugura três centros para dependentes de drogas) materializa o que argumentava Hayek (O Caminho da Servidão, Cap. 14):
Nossa geração corre perigo de esquecer, não só que a moral é por essência um fenômeno da conduta pessoal, mas também que ela só pode existir na esfera em que o indivíduo tem liberdade de decisão e é solicitado a sacrificar voluntariamente as vantagens pessoais à observância de uma regra moral. Fora da esfera da responsabilidade pessoal não há bondade nem maldade, nem possibilidade de mérito moral, nem oportunidades de pôr à prova as próprias convicções pelo sacrifício dos desejos individuais ao que se considera justo. Só quando somos responsáveis pelos nossos interesses e livres para sacrificá-los é que a nossa decisão tem valor moral. Nem temos o direito de ser altruístas à custa de terceiros, nem há mérito algum em o sermos quando não existe outra alternativa. Os membros de uma sociedade que são compelidos a fazer sempre o que é justo não têm direito ao louvor.
Como disse Milton: "Se toda ação boa ou má de um homem adulto dependesse de permissão, prescrição ou coerção, o que seria a virtude senão uma palavra, que louvor caberia à boa ação, que honra haveria em ser sensato, justo ou continente?"
(...)
O fato de que na esfera da conduta individual os efeitos do coletivismo têm sido quase inteiramente destrutivos é ao mesmo tempo inevitável e inegável. Um movimento cuja maior promessa é isentar o indivíduo da responsabilidade3 não pode deixar de ser antimoral nos seus efeitos, por mais elevados que sejam os ideais que o geraram. Pode haver dúvida de que o sentimento da obrigação pessoal de eliminar injustiças, sempre que o permitem nossas forças individuais, foi enfraquecido ao invés de se fortalecer? E de que tanto a disposição para assumir responsabilidades, como a consciência de que é nosso dever individual saber escolher, foram bastante debilitadas? Há uma total diferença entre exigir que a autoridade estabeleça uma situação satisfatória, ou mesmo entre estar pronto a submeter-se contanto que todos façam o mesmo, e dispor-se a fazer o que pessoalmente julgamos justo, com sacrifício dos nossos próprios desejos e enfrentando talvez uma opinião pública hostil. Há claros indícios de que nos tornamos, na realidade, mais tolerantes para com determinados abusos e muito mais indiferentes perante as desigualdades em casos individuais, depois que voltamos nossa atenção para um sistema inteiramente novo, em que o Estado resolverá todas as questões. É bem possível mesmo, como se tem sugerido, que a paixão pela ação coletiva seja um meio pelo qual, coletivamente e sem remorso, passamos a satisfazer o egoísmo que, como indivíduos, tínhamos aprendido, em parte, a reprimir.
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